sexta-feira, 26 de março de 2010

PassadoS e Futuro






Berlim vive hoje entre dois projetos de futuro. O primeiro segue a trajetória de todas as outras grandes metrópoles europeias, em que a cidade de torna um museu ao ar livre, um grande centro de entretenimento guiado pelas regras da indústria do turismo e do mercado, principalmente as do mercado imobiliário. Este expulsa seus moradores locais e, consequentemente, faz com que bens e serviços sejam explorados sem qualquer controle. O Realstate não simplesmente expulsa os moradores locais, como também vai empurrando a periferia para lugares cada vez mais afastados do centro e vai invadindo-a, de forma a transformá-la em novos centros.


O Segundo projeto de futuro fica por conta da história singular desta cidade, marcada por dois passados antagônicos, totalmente diferentes e que se complementam tão bem. Foram, justamente, as pessoas da Alemanha Ocidental que fizeram os primeiros Squats, antes mesmo do muro cair. Na década de 70, em Frankfurt, moradores protestaram contra um projeto do governo de renovar antigos prédios residenciais e transformar em escritórios comerciais. As pessoas do Leste tinham moradia, emprego e educação garantida, mas os espaços para as atividades culturais locais eram regulados pela Stasi (polícia secreta da Alemanha Oriental), daí a necessidade de espaços para criação livre e para o desenvolvimento da subcultura que ia contra o governo da República Democrática Alemã.

Então, logo após a queda do muro, quando anarquistas, punks, artistas e afins correram para ocupar os lugares abandonados da Berlim Oriental, nos bairros de Prenzlauer Berg, Mitte e Friedrichshain, ouve uma fusão entre pessoas que carregavam o seu passado Oriental e as que carregavam um Ocidental. Provavelmente, esse grupo foi o que mais rápido teve que se adaptar às diferenças culturais e que mais cedo também conseguiu superá-las. A herança comunista marcou a cidade e seus moradores com uma forma bastante diferente de agir no espaço público e na esfera social e os Squats, com a sua proposta de vida alternativa e de resistência, casava muito bem com as ideologias jovens tanto da jovem Berlim Oriental, quanto da Ocidental. É esse mix, justamente, essa comunhão de atitudes que se mostra como resistência e dá a esperança de Berlim conseguir trilhar um f
uturo menos previsível e mais criativo que as outras capitais europeias.


Muita coisa mudou desde a queda do muro, a maioria dos Squats se acabou e teve moradores expulsos de seus prédios. Alguns desses espaços resistiram, tiveram uma maior mobilização, se organizaram e conseguiram juntar dinheiro suficiente para comprar as construções as quais habitavam. Em 20 anos, Prenzlauer Berg e Mitte conseguiram se transformar nos bairros da moda, e consequentemente, bem mais caros do que eram. Hoje ainda existem prédios chamados de Squats em Berlim, mas em todos eles existem acordos entre os proprietários e os moradores, de forma que existe um aluguel pago mensalmente,
mesmo que ele seja bastante reduzido e fora dos valores de mercado.


A partir do momento que os Squatters conseguem comprar a sua moradia, cada um vai explorá-la da maneira que mais lhe for conveniente. Ainda seguindo a lógica do sistema comunal, ateliês, bares, cafés, lojas, livrarias, restaurantes, galerias e demais atividades exercidas pelos seus moradores convivem harmonicamente e se ajudam mutuamente. Esse tipo de contexto faz muita diferença para a cidade, mesmo tendo sido incorporados pelo sistema, a história dos Squats e o seu compromisso com a cultura local permanece bastante presente.


Uma coisa curiosa de se observar, é a quantidade de lugares com noites de Open Mic ou também chamadas Jam Session: Performers e músicos (anônimos ou não) podem subir no palco, apresentar seu talento, se expor de forma despretensiosa e ampliar sua rede de contatos e parcerias. Muitos desses lugares foram Squats no passado, como por exemplo o ACUD Session Café que fica localizado no complexo cultural ACUD, em Mitte. As segundas, terças e quartas são dedicadas às experimentações musicais. No ACUD existe ainda um cinema, um teatro, uma cantina (biergarten), uma galleria e um club. Eram dois, mas o Mädchenclub fechou no final de 2009, depois de 13 anos, por cortes da subprefeitura de Mitte.

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