sexta-feira, 26 de março de 2010

Relatório Berlim



Em 2009, foi o vigésimo aniversário da queda do muro que separava as duas Alemanhas; Oriental e Ocidental. Na capital Alemã, por toda parte aconteceram seminários, palestras, concertos e eventos que abordavam a reunificação e as mudanças desde então. Como Berlim consegue digerir dois passados tão diferentes e seguir sua própria história? Esta parece ser a questão que mais intriga seus moradores, principalmente, aqueles que adotaram a cidade, advindo de outros países. No campo das artes, o diálogo é travado a cerca do constante processo de transformação pelo qual a cidade passa e para onde essas transformações estariam levando Berlim.


A área fronteiriça entre o lado Oeste e Leste, onde ficava os postos de controle de entrada e saída de pessoas e que se caracterizava por ser um grande descampado, hoje é ocupada por grandes centros de compras, negócios e representa, ao máximo, a cultura ocidental americanizada, com todas as suas grandes corporações. Na parte Oriental, logo após a queda do muro, e já até mesmo antes dela, um mix de artistas, ativistas e simplesmente sem-teto ocupavam construções e espaços industriais abandonados. No final da década de 80, o movimento Punk já havia se solidificado e prédios bombardeados, em ruínas, serviam de palco para grupos musicais, companhias de teatros, espetáculos de Ópera Rock e para tantas outras atividades culturais que de alguma forma se autofinanciavam e se mantinham a muito baixo custo.


Nas décadas de 70 e 80 projetos alternativos de vida foram iniciados em várias cidades Alemãs, principalmente nas cidades do Oeste. A princípio, esses espaços apenas protestavam contra a falta de moradia acessível e o direito à habitação, mas o que começou como um protesto político, acabou se tornando uma demonstração de mobilização social, civil e exemplo de que essas alternativas podem dar certo como organizações culturais e agentes de conscientização política. O binômio trabalho e moradia habitava um só lugar, uma só filosofia de vida, um mesmo projeto que iria de encontro às regras de mercado e tentaria ser uma alternativa ao sistema em vigor e se tornaria foco de resistência. Esses lugares foram batizados de Squats.


Há vários motivos para tentar explicar historicamente o porquê de Berlim ter se tornado uma cidade tão singular e ser referência para as expressões artísticas das ruas, refiro-me não só ao grafite, ao tag e ao estêncil, mas a todo tipo de ação que se utiliza da cidade como um playground e faz do cidadão um ser ativo, participante, um jogador. A estética contemporânea tão marcante das ruas de Berlim está ligada não somente ao seu passado, mas principalmente ao seu futuro. Qual o amanhã que Berlim quer? E o que ela não quer?

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